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O DRAMA SATÍRICO ÔNFALE, DE ÍON DE QUIOS, PARTE 1: APRESENTAÇÃO, MITO E TRADUÇÃO1

OMPHALE, A SATYR-PLAY BY ION OF CHIOS, PART I: PRESENTATION, MYTH AND TRANSLATIO

Wilson Alves Ribeiro Jr.
Universidade de São Paulo, Brasil

O DRAMA SATÍRICO ÔNFALE, DE ÍON DE QUIOS, PARTE 1: APRESENTAÇÃO, MITO E TRADUÇÃO1

Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, vol. 34, núm. 2, pp. 1-13, 2021

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos

Recepción: 04 Mayo 2020

Aprobación: 30 Septiembre 2020

Resumo: O drama satírico Ônfale, de Íon de Quios (c. 484-422 a.C.), é uma das poucas representações dramáticas gregas do mítico relacionamento amoroso de Héracles com a rainha lídiaÔnfale. Esta publicação contém um sumário das fontes escritas e iconográficas do mito, sua influência no drama antigo, a tradução portuguesa dos 19 fragmentos de Ônfale (dois deles podem ser parte de antigo argumento do drama satírico) e uma reconstrução conjetural do drama.

Palavras-chave: drama satírico, Íon de Quios, teatro grego, Héracles, Ônfale, transvestismo.

Abstract: Omphale, a satyr-play by Ion of Chios (c. 484-422 BC), is one of few known Greek dramas about a mythical love affair between Heracles and Lydian queen Omphale. This publication contains a summary of myth’s written and iconographic sources, its influence on ancient drama, a Portuguese translation of Omphale’s 19 fragments (two may be part of an ancient hypothesis), and a conjectural reconstruction of the satyr play.

Keywords: satyr play, Ion of Chios, Greek theatre, Heracles, Omphale, transvestism.

Íon de Quios viveu entre 484 e 422 a.C., aproximadamente, e foi um dos mais versáteis autores da Antiguidade.2 Visitou Atenas em diversas ocasiões e escreveu tragédias, dramas satíricos, ditirambos, poemas líricos, textos filosóficos e históricos, observações sobre fenômenos astronômicos e reminiscências a respeito de pessoas que conheceu,3 espécie de autobiografia avant la lettre. Temos notícias de sua participação nos concursos dramáticos de Atenas e sabemos que, pelo menos em uma ocasião, venceu simultaneamente os certames de ditirambos e de tragédias. Sua produção teve mérito suficiente para merecer uma piada de Aristófanes (Paz 832-7), a atenção de Calímaco (ΣRV Aristófanes Paz 835-837a), Aristarco (Ateneu 14.634c) e Dídimo,4 e a comparação desfavorável de sua poesia trágica com a de Sófocles (Do Sublime 33.5). O autor do tratado Do Sublime reconheceu que a poesia de Íon era irrepreensível (ἀδιάπτωτος), elegante (γλαφυρός) e, no todo, bem escrita (πάντη κεκαλλιγραφημένος), mas inferior à de Sófocles em termos de ousadia e impacto. A despeito desse derrisório julgamento literário, as numerosas menções e comentários dos eruditos antigos sugerem que as obras de Íon eram lidas e estudadas na Antiguidade, mas nenhuma delas sobreviveu de forma integral.

Ônfale é a única obra conhecida de Íon de Quios que, com certeza, pode ser caracterizada como drama satírico.5 A data de composição é incerta, estimada entre 452-448 e 422 a.C.,6 e só dispomos de vinte e poucos versos, nem todos completos. Há 19 fragmentos, todos eles citações de autores antigos, notadamente Ateneu, o que atesta o interesse despertado pela obra. Há duas tragédias7 de Íon que, assim como Ônfale, fazem parte do ciclo de Héracles: Alcmena (F 5a-8) e Euritidas (F 1013a).8 Schmid e Stählin (1934, p. 88) propuseram que esses três dramas e uma terceira tragédia desconhecida formavam uma tetralogia, mas não há evidências que sustentem essa possibilidade (Silk, 1985, p. 19-20, n. 9).

Nesta primeira parte do artigo, após breve esboço do tema mítico, apresento uma tradução em língua portuguesa dos fragmentos de Ônfale, dispostos de acordo com proposta de reconstrução conjetural e parcial9 do drama, e o texto grego original.

Ônfale, Héracles, mito e drama

Ônfale, de Íon de Quios, inspirou-se no mito da servidão de Héracles junto a Ônfale, rainha da Lídia. De acordo com dados de fontes escritas e iconográficas anteriores a 422 a.C. e acessíveis a Íon,10 Zeus ordenou que Hermes vendesse Héracles como escravo porque ele matou indevidamente Ífito, filho de Êurito, rei da Ecália. Ônfale, rainha da Lídia, comprou-o pelo preço de três talentos e o herói a serviu durante um ano, de acordo com Sófocles (Traquínias 69-70).11 A servidão foi humilhante, mas não muito penosa,12 já que Héracles e Ônfale tiveram pelo menos um filho (Helânico F 122; Paníasis F 23 West; Heródoto 1.7).

Consta que um dos jogos amorosos entre a rainha e seu poderoso escravo era a recíproca troca de vestes: a rainha se recobria com a pele de leão e manejava as armas do herói, enquanto ele usava vestes femininas e fiava.13 Esse detalhe do mito é mencionado, no entanto, somente por autores relativamente recentes, do século I a.C. em diante.14 A maior parte das evidências iconográficas é também dessa mesma época, quando o tema desfrutou de grande popularidade e se tornou até mesmo item de propaganda política (Hekster, 2004).

Héracles, Ônfale e erotes. Desenho moderno de afresco.15
1
Héracles, Ônfale e erotes. Desenho moderno de afresco.15
Nápoles 8992

A fig. 1 constitui exemplo típico das representações artísticas tardias.16 Ela reproduz um afresco da Casa de Marcus Lucretius (Pompeia, IX.3.5), datado de 50-79 d.C., que mostra Héracles embriagado e com longo manto. Ônfale está sóbria e apoiada tranquilamente na clava, vestida com a pele do leão, e três pequenos erotes assinalam a natureza amorosa do vínculo entre senhora e escravo. Os elementos iconográficos da figura de Ônfale são os mais importantes para a identificação desse tipo de cena.

Fontes escritas antigas que apontam as relações íntimas entre Héracles e Ônfale (Helânico, Paníasis, Heródoto) nada falam do transvestismo. Em documentos iconográficos anteriores ao Período Helenístico há, por outro lado, algumas possibilidades, mas nenhum deles contém os elementos essenciais para a identificação de Héracles ou de Ônfale com roupas trocadas.

As mais promissoras (e inconclusivas) evidências do Período Arcaico são de natureza iconográfica:17 a fragmentária ânfora ática de figuras negras do Getty (Malibu 77.AE.45, c. 540 a.C.)18 e uma cabeça feminina de pedra de Atenas, encontrada na Lícia (Atenas 1738, c. 500 a.C.).19 Na ânfora há uma figura feminina não identificada (Ônfale?), recoberta com pele de leão e um arco nas mãos, sentada diante de um homem com cítara (Héracles?); a cabeça de pedra também está coberta com a pele de leão. As duas imagens mostram, aparentemente, Ônfale transvestida.20

Quanto ao Período Clássico, dispomos de evidências literárias e iconográficas de valor variável. Três dramas satíricos intitulados Ônfale devem ter introduzido, durante o século V a.C., detalhes, nuances e acréscimos ao mito básico: o de Íon de Quios, objeto do presente estudo, o de Aqueu de Erétria, contemporâneo de Íon, e o de Demétrio, poeta representado no Vaso de Pronomos (c. 400 a.C.). Do texto de Aqueu21 restam meia dúzia de versos que não mencionam nem Ônfale, nem Héracles, e a existência do drama satírico de Demétrio é apenas uma possibilidade.22 Em relação à comédia, Plutarco (Péricles 24.9) afirma que os poetas cômicos costumavam chamar Aspásia, companheira de Péricles, de Ὀμφάλη τε νέα, ‘a nova Ônfale’; há, portanto, razões para imaginar que Héracles, Ônfale e o transvestismo constituíam um tema cômico razoavelmente recorrente. Os poetas podem ter só abordado, no entanto, outros aspectos cômicos da humilhante servidão de Héracles a uma poderosa figura feminina, como insinuou Sófocles em Traquínias 69-71 e 252-7.23 Plutarco menciona explicitamente24 Cratino (F 259) e Êupolis (F 294), poetas cômicos do final do século V a.C., mas esses fragmentos nada confirmam. A evidência iconográfica mais notável é um esquifo beócio de figuras vermelhas de Berlim (Berlim V.I. 1434, c. 435 a.C.),25 que mostra Héracles, com a pele do leão e sua clava, entregando seu arco a uma figura feminina que o saúda (Ônfale?). Mais atrás, uma serva (?) observa ao lado de um tear não muito proeminente, o que torna a cena sugestiva, mas não conclusiva.

No século IV a.C., os poetas Antífanes (F 174-6) e Cratino II (F 4-5) criaram comédias intituladas Ônfale, das quais temos pouquíssimas informações além do título, e Nicocares compôs uma comédia intitulada Casamento de Héracles (F 7), que pode ter mencionado a união de Héracles e Ônfale. Paléfato, autor do final do século IV a.C., racionalizou e destacou a paixão do herói pela rainha (Histórias inacreditáveis 44), mas não mencionou o transvestismo. Na iconografia, pélica lucaniana de figuras vermelhas (Paris K545, c. 350 a.C.) mostra uma figura feminina com uma espécie de tiara e fuso nas mãos, dirigindo-se a uma figura masculina jovem, apoiada em uma clava. De acordo com Schauenburg (1960, p. 73) e Gantz (1993, p. 439), há grande possibilidade de se tratar, como no caso de Malibu 77.AE.45, de cena inspirada na troca de roupas e atributos entre Héracles e Ônfale.

Em suma, as evidências literárias e iconográficas sugerem, embora com expressiva margem de contestação, que o transvestismo de Héracles e Ônfale era conhecido dos poetas e artistas dos Períodos Arcaico e Clássico. Já no final do Período Clássico ou início do Período Helenístico, temos pelo menos duas obras de arte com sinais indubitáveis do transvestismo de Ônfale: um selo escaraboide (Londres 1905, 0711.5, séc. IV a.C.) e um camafeu (Londres 1923, 0401.1153, 323 a 31 a.C.).26 Nas duas peças vemos claramente Ônfale com a clava e a pele de leão.

De todos os textos dramáticos anteriores, somente alguns fragmentos do drama satírico Ônfale, de Íon de Quios, são associáveis ao transvestismo de Héracles e Ônfale, questão que ainda evoca controvérsias entre os estudiosos.27 Se essa possibilidade se confirmar, dispomos de fonte escrita um século mais antiga do que as duas imagens do Museu Britânico e, mais ainda, podemos imaginar que a obra de Íon teve relevante papel na difusão e popularização da cosmética inversão de papéis28 de Héracles e Ônfale entre artistas e poetas dramáticos que o sucederam.

Tradução e reconstrução conjetural29

Mantive a numeração seguida pelo TrGF, mas posicionei os fragmentos em sequência condizente com a reconstrução proposta.

ÔNFALE, DRAMA SATÍRICO

Íon de Quios

Argumento. A cena se passa no palácio de Ônfale, em Sardes, durante um banquete. Personagens do drama: Héracles, Hermes, Ônfale e o Coro de sátiros; personagens não gregos falam de forma um tanto arrevesada. F 3333a. Personagens mudos? [F 20 e 22].

F33a

e disse Íon

a respeito de Ônfale

(...)

F 33

os bárbaros (falam como) andorinhas

Prólogo. Acessório em forma de cavalo e grua (krádē)30 podem ter sido utilizados. Héracles chega à Lídia, diante do palácio de Ônfale, montado no “cavalo” e acompanhado de Hermes. É possível que o ator entre em cena descendo por meio da grua. F 17a19.

F 17a

〈HÉRACLES〉 Estamos já conduzindo o cavalo de Bóreas fora dos 1

limites de Pélops, Hermes; a viagem se aproxima do fim.

F 18

〈HERMES?〉 A estreita corrente do Êuripo separa a terra da

Eubeia †da costa da Beócia, cortando

a passagem para Creta (?) †

F 19

o penhasco Parnassiano

Párodo. O coro de sátiros, ora submetido a Ônfale, entra em cena. Os sátiros estão maquiados, com roupas femininas, e provavelmente recebem Héracles na entrada do palácio.

Episódios e estásimos. Dentro do palácio há um grande banquete. Não é possível distribuir os fragmentos entre episódios específicos e êxodo, mas pode-se agrupá-los de acordo com dois temas. Não há fragmento com métrica sugestiva de canto coral (estásimos). F 2031, F *59.

1. Cena(s) de banquete.Música, bebida e comida: destaque para os notórios excessos gastronômicos e etílicos de Héracles. F 20, F 21, F 23, F 26-9, F *30.

F 21

〈HÉR.〉 tenho, pois, que manter o festim durante um ano

F 23

〈ÔNFALE〉 E que o lídio aulo magadis conduza o canto

F 20

〈ÔNF.〉 adiante, donzelas, providenciai tigelas e vasos umbelicados

F 26

não há (mais) vinho

no esquifo

F 27

fizeste uma libação, então bebe a corrente do Pactolo

F 28

depois de reduzir a cinzas uma raiz de carvalho fácil de queimar

F 29

durante o silêncio sagrado

ele engoliu os pedaços de madeira e os carvões

F *30

Héracles ... tem dentes ... em três fileiras

2. Cena de transvestismo. Os sátiros colocam roupas femininas e maquiagem em Héracles. F*59, F 22, F24-25, F31.

F 22

〈ÔNF.〉 vamos, harpistas lídias, cantoras de

antigos hinos, adornai nosso hóspede

F *59?

túnica de linho curta, que lhe chegou até metade

da coxa

F 24

unguento de ásaro, mirra e

cosmético de Sardes para a pele: é melhor

conhecê-los do que o estilo de vida na ilha de Pélops

F 25

e o pó negro para pintar os olhos

F 31

〈CORO?〉 estamos lidando com miudezas

Êxodo. A rainha anuncia a (futura) libertação de Héracles e dos sátiros. F 32.

F 32

... thíasos31 ...

Texto grego

Segui basicamente o texto grego do TrGF.32 Os fragmentos foram dispostos na mesma ordem da tradução.

ΟΜΦΑΛΗ ΣΑΤΥΡΙΚΗ

Ἴων Χῖος

F 33a

φη]σὶ δὲ [περὶ

[? Ὀμφάλ]ης Ἴων[

[ ]λ̣η̣ν τι[

F 33

(τούς) βαρβάρους ... χελιδόνας

F 17a

〈ΗΡΑΚΛΗΣ〉 Ὅρων μὲν [ἤ]δη Πέλοπος ἐξελαύ[νο]μεν, (1)

Ἑρμῆ, βόρειον [ἵπ]πον, ἄνεται δ’ ὁδός

F 18

〈ΕΡΜΗΣ?〉 Εὐβοῖδα μὲν γῆν λεπτὸς Εὐρίπου κλύδων

†Βοιωτίας ἀκτῆς ἐχώρισεν ἐκτέμνων

πρὸς κρῆτα πορθμόν†

F 19

σπίλον Παρνασσίαν

F 21

〈ΗΡΑΚΛ.〉 ἐνιαυσίαν γὰρ δεῖ με τὴν ὁρτὴν ἄγειν

F 23

〈ΟΜΦΑΛΗ〉 Λυδός τε μάγαδις αὐλὸς ἡγείσθω βοῆς

F 20

〈ΟΜΦ.〉 ἴτ’ ἐκφορεῖτε, παρθένοι, κύπελλα καὶ μεσομφάλους

F 26

οἶνος οὐκ ἔνι

ἐν τῷ σκύφει

F 27

ἔσπεισας· ἀλλὰ πῖθι Πακτωλοῦ ῥοάς

F 28

ἐξανθρακώσας πυθμέν’ εὔκηλον δρυός

F 29

ὑπὸ δὲ τῆς εὐφημίας

κατέπινε καὶ τὰ κᾶλα καὶ τοὺς ἄνθρακας

F *30

εἶχεν ... τοὺς ὀδόντας ... τριστοίχους Ἡρακλῆς

F 22

〈ΟΜΦ.〉 ἀλλ’ εἶα, Λυδαὶ ψάλτριαι, παλαιθέτων

ὕμνων ἀοιδοί, τὸν ξένον κοσμήσατε

F *59

βραχὺν λίνου κύπασσιν ἐς μηρὸν μέσον

ἐσταλμένος

F 24

βακκάρις δὲ καὶ μύρα

καὶ Σαρδιανὸν κόσμον εἰδέναι χροός

ἄμεινον ἢ τὸν Πέλοπος ἐν νήσῳ τρόπον

F 25

καὶ τὴν μέλαιναν στίμμιν ὀμματογράφον

F 31

〈ΧΟΡΟΣ?〉 ἐρρωπίζομεν

F 32

θίασος

Abreviaturas bibliográficas e referências
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ParisParis, Museu do Louvre
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Notas

1 Versão preliminar do artigo foi apresentada no XXII Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, 2 a 6 de setembro de 2019, Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, em 03/09/2020.
2 Principais fontes antigas: Suda δ 1029 e ι 487; Ateneu 1.3f; Plutarco, Címon 9.1; ΣRV Aristófanes, Paz 835-837a; [Longinus] Do sublime 33.5; Argumento do Hipólito II de Eurípides. Ver também Webster (1936), Huxley (1965), West (1985), Dover (1986) e o útil sumário de Jennings (p. 1-4).
3 Para o título de todas as obras conhecidas, ver Jennings, p. 385-9.
4 Dídimo escreveu ‘críticas sobre as tragédias de Íon’, Δίδυμος ὁ γραμματικὸς ἐν ταῖς εἰς Ἴωνα Ἀντεξηγήσεσιν (Ateneu 14.634e).
5 Trechos dos papiros POxy. 1083 + 2453, atribuídos pela maioria dos estudiosos ao drama satírico Eneu, de Sófocles (= TrGF 4 F **1130, possivelmente também F **1131-33), foram anteriormente considerados remanescentes de outro drama satírico de Íon de Quios (= F 151*** L) por Wilamowitz: ver Huxley (1965, p. 43) e TrGF 4 F **1130 ad loc.
6 Respectivamente, época da primeira participação de Íon nos concursos de Atenas e ano anterior à apresentação da comédia Paz, de Aristófanes (Easterling, 2007, p. 283), que “noticiou” seu falecimento.
7 Íon fazia parte do catálogo alexandrino de poetas trágicos (TrGF 1 Catálogo A.2-3) e dispomos de títulos e curtíssimos fragmentos de alguns de seus dramas (TrGF 1.19): Agamêmnon, Alcmena, Argivos, Euritidas, Laerte, Grande Drama, Teucro, Fênix I (ou Ceneu ou Eneu?), Fênix II, Os Vigias (tragédias) e Ônfale (drama satírico). De sua participação nos concursos temos apenas uma data certa, 428 a.C. Nessa oportunidade ele foi derrotado por Eurípides, que venceu com o segundo Hipólito, e por Iofonte, que obteve o segundo lugar (cf. argumento do Hipólito de Eurípides atribuído a Aristófanes de Bizâncio).
8 A julgar pelo título, tratavam respectivamente do episódio da geração do herói e de seu envolvimento com os filhos de Êurito.
9 Se Ônfale tinha cerca de 700 versos, como o Ciclope de Eurípides, resta menos de 3% do texto original.
10 Helânico de Lesbos (F 122), c. 480-395 a.C.; Paníasis de Halicarnasso (F 23), 475-450 a.C.; Ésquilo (Agamêmnon 1040-41), 458 a.C.; Sófocles (Traquínias 69-72, 248-57, 269-80 e 356-7), entre 457 e 430 a.C., provavelmente; Ferécides (F 82b), c. 450 a.C.; Heródoto (1.7), c. 425 a.C.
11 Ou três, segundo o F 33 de Herodoro de Heracleia, c. 400 a.C. De acordo com Diodoro Sículo e [Apolodoro] (ver nota 14 infra), Héracles se livrou de malfeitores, como Sileu e os Cércopes, em benefício de Ônfale. Não há evidência disso nas fontes mais antigas.
12 Cf. Sófocles, Traquínias 70 e 254. Ver também nota 23, infra.
13 Héracles não é o único herói mítico a usar roupas femininas em alguma ocasião: Penteu (Bacantes, de Eurípides), Aquiles (Esquirenses, de Eurípides), Teseu (Pausânias 1.19.1), divindades e heróis de algumas localidades tiveram essa experiência. Para síntese do fenômeno no mundo antigo, ver Bullough e Bullough (1993, p. 23-44). Sobre deuses, heróis, rituais religiosos e transvestismo, ver Suhr (1953), Ament (1993, p. 14-21), Loraux (1995, p. 126-7), Leitao (1995) e Cyrino (1998, p. 211). Ver também Seaford (1996, p. 222-3), sobre rituais dionisíacos; Walker (1995, p. 100-1), a respeito de Teseu; Lee (2006), a respeito de Aqueloo; e Eppinger (2017), sobre o transvestismo de Héracles e os escritores cristãos.
14 As fontes escritas mais importantes são Diodoro Sículo 4.31.5-8; [Apolodoro], Biblioteca 2.6.3; Luciano, Diálogo dos Deuses 15.2; e Tzetzes, Livro de Histórias 2.424-42, entre os gregos; Propércio 3.11.17-20 e 4.9.47-50; Ovídio, Heroides 9.47-136 e Fastos 2.303-58; Estácio, Aquileida 1.260-61; Sêneca, A loucura de Hércules, 464-71; Hércules no Eta, 371-7; Fedra 323-37; e Tertuliano, Do manto 4.3, entre os romanos. Há também um mimo de título e autor desconhecido (P. Oxy. 53.3700, século I d.C.) no qual o poderoso Héracles é representado como porteiro de um bordel gerenciado por Ônfale (Jarcho, 1987, p. 32-4), interpretação inspirada por Aristófanes (Acarnenses 527) e pelos dramas satíricos de meados do século V a.C. (Powell, 1995, p. 260).
15 Imagem realçada digitalmente pelo autor. Original: Giuseppe Abate (Nápoles ADS 1062), responsável pelo desenho dos achados da escavação do sítio (Pompeia IX.3.5) em 1847. O afresco, encontrado na parede leste do triclinium (cômodo 14), encontra-se atualmente em Nápoles. © ICCD, www.catalogo.beniculturali.it, CC BY-NC-SA 2.5 IT. Fonte: Dunn (2019).
16 Há dezenas de representações artísticas em diversos suportes, e.g. pinturas murais, esculturas, gemas e camafeus: ver Boardman (1994).
17 A iconografia aqui sumariada não é exaustiva; foram mencionados apenas os documentos que, de acordo com os estudiosos, têm maior probabilidade de refletir o transvestismo de Héracles e Ônfale.
18 Imagem disponível em Brommer (1985, p. 212).
19 Imagem disponível em greciantiga.org/img.asp?num=1407.
20 Ver Brommer (op. cit. p. 210-3) e Gantz (1993, p. 439), que consideram a identificação da ânfora praticamente certa, e síntese da discussão sobre a cabeça de pedra em Kaltsas (2002, p. 77).
21 TrGF 1.20 F 32-5.
22 TrGF 1.49: ver Collard (2013, p. 415, n. 1).
23 Sófocles destaca que, para Héracles, a servidão foi um ‘sofrimento’ (πάθος, 261), ‘uma desgraça’ (ὄνειδος, 254), mas sem especificar a questão do gênero de sua proprietária. Ver nota 12, supra.
24 Essa informação de Plutarco usualmente é complementada pelo ΣV Platão, Menêxeno 235: Κρατῖνος δὲ †Ὀμφάλῃ τύραννον αὐτὴν καλεῖ,† χείρων Εὔπολις Φίλοις, talvez ‘Cratino †a chama (sc. Aspásia) de tirana Ônfale† e Êupolis, na (comédia) Amigos, de coisa pior’. Infelizmente, o texto do manuscrito está corrompido demais para conclusões (Schauenburg, 1960, p. 64; Powell, 1995, p. 259; Easterling, 2007, p. 290, n. 32).
25 Ver imagem e discussão em Sabetai (2012, p. 124-5, fig. 3.4), e discussão em Schauenburg (1960, p. 64) e em Gantz (1993, p. 439).
26 As duas imagens estão disponíveis no site do Museu Britânico, britishmuseum.org, por meio de busca na seção “Collection online”.
27 Dentre os editores de Íon, pelo menos Bl. (p. 42), TrGF 1.19 (ad loc.) e Cipolla (p. 135) consideram razoável essa interpretação; mais informações na parte 2 do artigo, ad F *59.
28 Héracles não teve problemas físicos de masculinidade durante seu relacionamento com Ônfale, como atestam Helânico, Paníasis e Heródoto; ver Suhr (1953, p. 262-3), Cyrino (1998, p. 214), Loraux (1995, p. 128-9), entre outros. Sobre a genealogia heráclida dos reis da Lídia, ver Fowler (2013, p. 318-20).
29 Segui o plano geral de reconstituição do drama delineada por KPS (p. 488-90), com exceção da hipótese, do párodo e do êxodo.
30 Gr. κράδη, lit. ‘ramo de figueira’, apelido da grua que baixa os personagens em cena de comédias e dramas satíricos. Ver Ribeiro Jr. (2018, p. 127-8) e referências.
31 Sem correspondência no português. Imagine-se um grupo de foliões que celebra divindade específica, no caso o deus Dioniso.
32 Edições principais: Bl. (F 60-76); TrGF 1.19 F 17a-33a + F *59? com acréscimos da p. 346 e do vol. 5.2, p. 1106; L (F 22-38); Cipolla (F 1-19). KPS e Collard acompanham o TrGF.
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