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O TEMPLO DE MARS VLTOR NO FÓRUM DE AUGUSTO: O DEUS DA GUERRA UTILIZADO COMO SÍMBOLO DA PAZ

THE TEMPLE OF MARS VLTOR IN THE FORUM OF AUGUSTUS: THE GOD OF WAR USED AS A SYMBOL OF PEACE

Macsuelber de Cássio Barros Cunha
Universidade Federal de Goiás., Brasil

O TEMPLO DE MARS VLTOR NO FÓRUM DE AUGUSTO: O DEUS DA GUERRA UTILIZADO COMO SÍMBOLO DA PAZ

Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, vol. 34, núm. 2, pp. 1-24, 2021

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos

Recepción: 17 Febrero 2021

Aprobación: 12 Abril 2021

Resumo: O último grande complexo arquitetônico construído por Augusto foi seu Fórum, que possuía, em lugar de destaque, um templo dedicado a Marte Vingador. Tal templo comemorava uma dupla vingança: contra os assassinos de Júlio César e contra os partos. Neste artigo, temos como objetivo compreender a importância que a construção deste templo desempenhou no governo de Augusto e as funções que passou a exercer, além de analisar sua iconografia para evidenciar de que maneira este deus da guerra teria sido utilizado como símbolo da paz.

Palavras-chave: Marte Vingador, Augusto, Fórum de Augusto, paz.

Abstract: The last great architectural complex built by Augustus was his Forum, which had, in a prominent place, a temple dedicated to Mars Vltor. This temple celebrated a double vengeance: against Julius Caesar’s assassins and against Parthians. In this article, we aim to address the importance that the construction of such a temple played in the government of Augustus and the functions it started to exert, as well as analyze its iconography in order to display how this god of war would have been used as a symbol of peace.

Keywords: Mars Vltor, Augustus, Forum of Augustus, peace.

I. Marte Vingador e Otávio Augusto

O deus Marte desempenhou um importante papel ao longo do governo do imperador Otávio Augusto, que ostentava tê-lo como um de seus ancestrais divinos, assim como tinha Vênus, representada como a mãe de Eneias, cujo filho Ascânio/Iulo teria dado origem à gens Iulia e fundado a cidade de Alba Longa, de onde vieram posteriormente Rômulo1 e Remo, por sua vez filhos de Marte.2 Além disso, foi a este deus que Otávio prometeu um templo em 42 a.C., na batalha de Filipos, para vingar a morte de seu pai adotivo, Júlio César; e seria em seu templo que Augusto abrigaria os estandartes romanos recuperados dos partos. Com relação ao templo dedicado a Marte Vingador, Ovídio3 nos informa que Otávio:



Erguendo as mãos, tendo de um lado o leal soldado
e, do outro, os conjurados, disse assim:
“Se eu luto por meu pai e pelo sacerdote
de Vesta, o nume e o outro eu vingarei.
Ó Marte, vem! Farta de sangue insano a espada,
à melhor causa volta o seu favor.
Se eu vencer, erguerei um templo a Marte Ultor”.
Promete, e volta ufano do inimigo.
Mas só isso não bastou ao cognome de Marte:
os pártias recobraram-se as insígnias
Era u’a nação por campos, flechas e cavalos
guardada, e inalcançável, por seus rios.
Animara seu povo o assassínio dos Crassos,
perderam-se as insígnias e os soldados.
Os pártias tinham das legiões de Roma o orgulho,
e de Roma o inimigo tinha as águias.
Manter-se-ia a vergonha a não ser que o exército
de César (Otávio) protegesse os bens da Ausônia.
Ele às antigas marcas pôs fim, e ao ultraje,
Que te serviu de costas flechas atirar,
ou o uso dos cavalos, ou o lugar?
Parta, entrega co’as Águias teu arco vencido:
já não tens o penhor de nosso ultraje.
O deus vingado duas vezes ganha um templo,
e o merecido honor paga o que deve.

Fuente: (Ovídio, Fastos, V.571-96)

Por meio desta passagem de Ovídio, fica clara a noção que se tinha na época com relação ao templo de Marte Vingador, cujo epíteto se referia às duas vinganças: a primeira contra os assassinos de César,4 quando o templo foi prometido; e a segunda contra os partos, que assassinaram Crasso, aprisionaram soldados romanos e tomaram as insígnias legionárias, símbolos de seu orgulho.

Deste modo, o templo foi prometido em campo de batalha, e de acordo com o próprio Augusto, o templo de Marte Vingador era manubial, ou seja, construído a partir das riquezas advindas dos inimigos derrotados, pois segundo ele: “Construí em terreno particular e com espólios de guerra o templo de Marte Vingador e o Fórum de Augusto” (Feitos do Divino Augusto, XXI). Mas diferentemente de outros templos prometidos em campanhas bélicas, sua construção não se iniciou logo após a batalha.

Não há consenso quanto à possível data do início dos trabalhos. Segundo John W. Stamper (2005, p. 132), as obras do Fórum teriam se iniciado por volta de 37 a.C., tendo maior impulso somente na década de 20 a.C. Para Brad Johnson (2001, p. 3), Augusto teria iniciado as obras depois de 29 a.C., uma vez que a vitória no Egito teria garantido os recursos necessários para tal. Para Lucrezia Ungaro (1995, p. 39), os trabalhos teriam se iniciado somente após 27 ou 23 a.C., quando foram lançadas as bases da nova ordem constitucional. Tanto para Haselberger (2007, p. 156) como para Joseph Geiger (2008, p. 55), o Princeps teria formulado os planos de erguer o complexo arquitetônico (o Fórum e o templo) por volta de 19/18 a.C. Hipóteses à parte, o que é certo é que o templo prometido em 42 a.C. foi consagrado apenas no ano de 2 a.C., embora o Fórum já houvesse sido inaugurado antes desta data, como afirma Suetônio5 (Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXIX).

O complexo arquitetônico dedicado a Marte representou um marco no governo do Princeps, coroando os anos finais de sua governança como o último grande empreendimento arquitetônico realizado por Augusto. Mas antes de tratarmos com mais detalhe sobre este importante complexo arquitetônico, convém que tratemos, mesmo que rapidamente, das intervenções urbanísticas e escavações realizadas na área do Fórum ao longo do tempo.

II. Intervenções urbanísticas e escavações na área do Fórum de Augusto

De acordo com Ungaro (2013, p. 12-15), a área dos fóruns imperiais6 foi densamente habitada durante a Idade Média. Segundo esta autora, em contraste com a gradual, intermitente e espontânea ocupação da área, em épocas mais recentes houve dois grandes projetos urbanos sob uma autoridade política centralizada. O primeiro foi o trabalho do Cardeal Alessandro Bonelli que, entre 1566 e 1572, criou o “distrito Alexandrino”, aterrando o vale dos fóruns e elevando seu nível em aproximadamente dois metros, sobre o qual planejou as ruas e canais de drenagem. O segundo maior projeto urbano na área aconteceu nos anos 20 e 30 do século XX, e, de acordo com a autora, teve um poderoso simbolismo político – buscou destruir o distrito Alexandrino para trazer à luz os monumentos da Roma imperial, de quem o fascismo acreditava ser a continuação direta.

O projeto havia sido elaborado em 1911, por Corrado Ricci, mas só teve início em 1924, com o aval de Mussolini.7 Buscava-se “liberar” os fóruns imperiais e construir uma grande avenida8 ligando o Coliseu e a Piazza Veneza. Segundo Roberto Meneghini e Ricardo S. Valenzani (2010, p. 3), nas décadas de 1920 e 1930, cerca de 5.900 m² do Fórum de Augusto foram escavados, o que corresponde a praticamente cinquenta por cento de seu tamanho total, de modo que o restante, cerca de 6.500 m², ficou abaixo da via Alessandrina e da via dei Fori Imperiali, o que impede uma ampla exploração arqueológica. As partes escavadas nesse período correspondem ao pódio do templo, ao pavimento dos pórticos laterais e de duas êxedras, uma de cada lado do templo.

No que se refere à área do Fórum de Augusto, nas décadas de 1970 e 1980 houve uma renovação dos estudos a partir de uma base científica, destacando-se o nome de Paul Zanker entre os especialistas do período. Entre 1998 e 2000, nas escavações realizadas no espaço entre as vias Alessandrina e dei Fori Imperiali, na área em que o Fórum de Augusto se conectava com o Fórum de Trajano, foram descobertos traços de uma terceira êxedra pertencente ao Fórum de Augusto, que teria sido eliminada posteriormente, quando o Fórum de Trajano foi construído. Tais conhecimentos foram aprofundados com as escavações ocorridas entre 2005 e 2007, de modo que estas escavações do início do século XXI e a descoberta de uma terceira êxedra permitiram concluir que o Fórum de Augusto contava com quatro êxedras simetricamente dispostas (fig. 1). Desta forma, os estudos sempre se limitaram a estas áreas já exploradas.

Planimetria da área de escavação de 2005-2007. Em preto: estado atual da área. Em vermelho: planimetria reconstrutiva do Fórum de Augusto
Figura 1
Planimetria da área de escavação de 2005-2007. Em preto: estado atual da área. Em vermelho: planimetria reconstrutiva do Fórum de Augusto
Meneghini; Valenzani, 2010, p. 4.

III. O Fórum de Augusto

Apesar de sua grandeza e importância, tendo servido de inspiração para diversos outros complexos arquitetônicos;9 o Fórum de Augusto não foi o primeiro deste tipo construído em Roma, tendo sido precedido pelo Fórum de César, que é considerado o primeiro dos fóruns imperiais.

No entanto,

Apesar de sua dívida àquele de Júlio César, o Fórum de Augusto é consideravelmente mais sofisticado na intenção e na execução. Focando não apenas na família do novo princeps e seu lugar na história romana, o Fórum de Augusto era uma declaração arquitetônica e artística da República restaurada. Certamente nenhum monumento romano demonstra mais habilmente a perfeita mistura de passado e presente, público e privado, nacional e estrangeiro, republicano e imperial (Gowing, 2005, p. 138).

Além disso, acreditamos que a construção do Fórum de Augusto respondeu a um duplo objetivo, ideológico e utilitário. Ideológico, pois, como vemos mais adiante, tal construção buscou propagar uma mensagem. Utilitário, pois, com o aumento da população, era necessário outro fórum para atender suas demandas.

No quinto livro de seu tratado sobre arquitetura, dedicado a Augusto, Vitrúvio10 aborda os diferentes edifícios públicos que compõem uma cidade, dentre os quais os fóruns. Segundo ele, as dimensões deveriam ser compatíveis com o público que ele deveria atender:

Há toda a conveniência em que as medidas sejam calculadas levando em conta a quantidade de habitantes, a fim de que o fórum não pareça nem espaço pequeno para as necessidades, nem largo em demasia pela falta de povo. A sua largura será definida de sorte que tenha duas partes das três em que for dividido o comprimento. Assim, desse modo, a sua planta será oblonga, e a sua disposição, útil para a realização de espetáculos (Vitrúvio, Tratado de Arquitetura, V.1.2).

De acordo com estas recomendações, um fórum deveria ser construído com tamanho proporcional à população para a qual se destinava. E esta relação entre a quantidade de pessoas e o tamanho do espaço que deveria atendê-las é um dos motivos para a construção do Fórum de Augusto, pois, de acordo com Suetônio, Augusto iniciou a construção de um novo fórum devido à grande quantidade de homens e de julgamentos, visto que os outros dois já construídos não bastavam para eles (A Vida dos Doze Césares, , XXIX).

O Fórum construído por Augusto possuía grandes proporções (fig. 2), e apesar de não sabermos suas medidas exatas, pelo fato de grande parte dele estar sob as avenidas atuais, por meio de estudos arqueológicos temos uma noção aproximada a seu respeito. O Fórum era composto de diversas partes, de modo que, se levarmos em conta todo o espaço construído, suas dimensões eram por volta de 125 x 125 metros; se não contarmos com as êxedras, o amplo espaço retangular media aproximadamente 125 metros de comprimento por 85 de largura; e se considerarmos apenas a área descoberta, em frente ao templo, suas medidas eram de cerca de 50 x 75 metros. Portanto, seu tamanho possuía as proporções recomendadas por Vitrúvio, de forma que a sua largura correspondia a duas partes das três que correspondiam ao comprimento.

Planta do Fórum de Augusto: A. Arco dei Pantani; B. Arco de Druso; C. Arco de Germânico; D. pronau do Templo de Marte Vingador; E. cela do Templo de Marte Vingador; F. pórticos; G. êxedras maiores; H. êxedras menores; I. Sala do Colosso
Figura 2
Planta do Fórum de Augusto: A. Arco dei Pantani; B. Arco de Druso; C. Arco de Germânico; D. pronau do Templo de Marte Vingador; E. cela do Templo de Marte Vingador; F. pórticos; G. êxedras maiores; H. êxedras menores; I. Sala do Colosso
Shaya, 2013, p. 86.

O templo estava centralmente posicionado em uma das extremidades do Fórum de Augusto, localizado a nordeste, exatamente em frente à entrada principal do Fórum a sudoeste. O templo estava sobre um alto pódio de 3,55 m de altura e que media 50 x 36 m; suas colunas tinham mais de 17 metros de altura (fig. 3), de modo que o templo, sobre o pódio, media cerca de 30 metros de altura (Ungaro, 2013, p. 126; Meneghini, 2009, p. 61).

Fórum de Augusto. Colunas do Templo de Marte
Figura 3
Fórum de Augusto. Colunas do Templo de Marte
Foto tirada pelo autor em 17/02/2019. Roma.

Fechando toda a lateral direita e esquerda do Fórum havia pórticos de 13 metros de largura, nos quais, provavelmente, se encontravam outras entradas de acesso. Cada pórtico possuía duas êxedras, sendo que as duas adjacentes ao templo eram ligeiramente maiores que as outras. As duas menores diferiam das maiores apenas pela ausência de grupos maiores de escultura em seu centro (Geiger, 2008, p. 118). No fim do pórtico norte, na extremidade que ficava próxima ao templo, havia um espaço quadrangular de 12 x 13 m, a Sala do Colosso (fig. 2 I).

No que se refere aos materiais, tanto no fórum como no templo, foram utilizados diferentes tipos de mármores, vindos de diversas partes do império, de modo que tal policromia ressaltava ainda mais a riqueza e grandiosidade do complexo.

[...] os vários tipos de mármore policromo do pavimento, das colunas e do revestimento das paredes, revelam as intenções do Fórum e de seus idealizadores. De fato, provinham das mais diversas regiões do Império, às vezes também das mais remotas, e eram extraídos das pedreiras imperiais: o poder do Imperador poderia acumular em Roma materiais de construção de cada parte do mundo. Constituíam, assim, uma prova direta, imediata da maiestas imperii11 (Zanker, 1984, p. 13).

A praça aberta do Fórum era pavimentada com mármore branco, e estava num nível inferior em relação ao piso dos pórticos, de modo que para acessá-los era necessário subir três degraus. Os pórticos possuíam uma única fila de colunas que eram feitas de mármore giallo antico extraído na Numídia (fig. 4). O segundo andar dos pórticos em sua parte exterior estava decorado com Cariátides e escudos em mármore branco (fig. 4). Nos pórticos, nas êxedras, bem como no templo havia uma grande diversidade de padrões decorativos nos pavimentos e uma grande policromia, com a utilização de mármores coloridos, como africano,giallo antico, bardiglio, cipollino e pavonazzetto.

De acordo com Miguel Cisneros Cunchillos (2002, p. 91-3), o mármore branco era a matéria prima da arquitetura religiosa, enquanto os mármores coloridos alcançaram seu significado programático como expressão concreta de uma concepção ideológica. Segundo este autor, o uso de determinados mármores na iconografia simbolizava os povos dominados, como pode-se observar, por exemplo, em fragmentos de estátuas em pavonazzetto, encontrados no Fórum Romano, que celebravam a volta dos estandartes e representavam os partos. Cisneros Cunchillos defende que, numa arquitetura onde a policromia era básica, as implicações propagandísticas dos mármores coloridos trazidos de terras distantes foram habilmente exploradas nos monumentos e tiveram que transcender o aparato iconográfico, de modo que o uso massivo desses mármores coloridos ratificou a maiestas imperii.

Fórum de Augusto. Reconstrução em 3D dos pórticos
Figura 4
Fórum de Augusto. Reconstrução em 3D dos pórticos
Ungaro, 2002, p. 111.

Tamanha riqueza e diversidade de materiais, juntamente com a vultosa soma empregada numa obra pública destinada à população de Roma, deve ter gerado uma sensação de prosperidade compartilhada. Como se a glória conquistada pelo Princeps fosse repartida também entre seu povo, de modo que ao pertencer à capital do império, todos fossem também coparticipantes deste poder que o imperador adquiriu sobre o mundo e que fazia questão de exibir em seu Fórum.

Na cidade republicana apenas alguns edifícios haviam empregado mármores luxuosos; com a riqueza e a paz da Era de Augusto, pedras coloridas importadas confluíram para Roma. Como resultado, o Princeps teve a rara oportunidade de fazer mudanças significativas na materialidade de toda uma paisagem; ele se vangloriou: “Eu encontrei Roma de tijolos de barro, eu deixo uma cidade de mármore” (Favro, 2007, p. 254).

Apesar de tal frase beirar o exagero, já que o emprego do mármore por Augusto não atingiu igualmente todas as partes de Roma, devemos dizer que, para o observador comum que adentrasse o Fórum por sua entrada principal, o uso massivo de diferentes tipos de mármore deve ter sido surpreendente, já que este material predominava no complexo. Sobrepujando a paisagem de mármore estava o templo de Marte Vingador, que se impunha ao olhar do passante pela grandeza de suas proporções.

IV. O templo de Marte Vingador e a Lex Templi

O templo de Marte (fig. 5) era octostilo, seguia as regras para templos picnostilos e a tipologia do períptero sine postico, ou seja, colunata em três de seus lados e sem colunas na parte posterior – tipologia ligada ao modo romano de construir templos.

Fórum de Augusto. Reconstrução em 3D do Templo de Marte
Figura 5
Fórum de Augusto. Reconstrução em 3D do Templo de Marte
Ungaro, 2013, p. 120-1.

As colunas exteriores do templo pertenciam à ordem coríntia (fig. 6). Stamper (2005, p. 132) esclarece que os arquitetos do templo sintetizaram os componentes da ordem coríntia, criando uma nova expressão do classicismo romano que se diferenciava por transcender as influências da arquitetura helenística da Grécia e da Ásia Menor. Este autor considera o Templo de Marte Vingador como o mais perfeitamente concebido e elaborado do período, empregando a ordem coríntia de uma maneira ortodoxa em termos de proporção, dimensões e motivos, embelezando-a, ainda, com tipos de ornamentação únicos para os construtores romanos.

Fórum de Augusto. Capitéis coríntios da ordem exterior do Templo de Marte.
Figura 6
Fórum de Augusto. Capitéis coríntios da ordem exterior do Templo de Marte.
Fotos tiradas pelo autor em 17/02/2019. Roma.

Sobre as colunas estava a arquitrave tripartida, a qual, segundo Ovídio (Fastos, V.567), continha o nome do Princeps. De acordo com Meneghini (2009, p. 65), a inscrição dedicatória estava disposta em três linhas de texto, na parte central da arquitrave, entre a segunda e a sétima coluna, com comprimento de cerca de 21 metros.

A relação deste templo com a esfera militar era estreita, não só por ser dedicado ao deus da guerra ou por ter sido construído em homenagem a vitórias militares, contra os assassinos de César e contra os partos, mas também pelas funções que passou a desempenhar. Estas funções estavam prescritas na Lex Templi12 proclamada por Augusto no momento da dedicatio do templo.

Conhecemos o teor da Lex Templi por meio de dois autores antigos. Um deles é Suetônio (A Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXIX), que traz uma descrição breve sobre as funções do templo, esclarecendo que Augusto

determinou, então, que o Senado fosse consultado neste templo sobre guerras e triunfos, que os que houvessem de partir para as Províncias saíssem daí investidos de poder e que cada um dos vencedores que regressasse levasse para esse local as insígnias do triunfo (Suetônio, A Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXIX).

O segundo autor que nos esclarece sobre o conteúdo da Lex Templi, e que nos traz informações mais precisas que aquelas dadas por Suetônio, é Dion Cássio.13 Apesar de a lacuna nos manuscritos nos ter privado do início do texto, podemos ter uma boa noção das funções do templo de Mars Vltor no seguinte trecho:

[...] a Marte, e que ele e seus netos devam ir lá quantas vezes quiserem, enquanto aqueles que passem do grupo dos garotos e sejam inscritos entre os jovens em idade militar invariavelmente o façam; que aqueles que foram enviados para comando no exterior façam daquele o seu ponto de partida; que o Senado deva votar lá em relação à concessão de triunfos e que os vencedores, depois de celebrá-los, devam dedicar a Marte seu cetro e sua coroa; que tais vencedores e todos os outros que recebem honras triunfais tenham suas estátuas em bronze erguidas no Fórum; caso os estandartes militares capturados pelo inimigo sejam recuperados, que eles devam ser colocados no templo; que um festival seja celebrado próximo aos degraus do templo pelos comandantes da cavalaria de cada ano; que um prego seja cravado pelos censores no final de seus mandatos; e que até os senadores tenham o direito de contratar para suprir os cavalos que competem nos jogos circenses e também para assumir o comando geral do templo, como havia sido estabelecido por lei no caso dos templos de Apolo e de Júpiter Capitolino (Dion Cássio, História Romana, LV.10.2-5).

Percebemos por meio destas passagens a preponderância das funções relacionadas com aspectos militares, como os assuntos referentes à paz, à guerra e aos triunfos. Além disso, algumas das atividades que passaram a ser realizadas no templo de Marte anteriormente se davam no Monte Capitolino ou no Campo de Marte.

De acordo com Marianne Bonnefond (1987, p. 254), o uso do templo de Marte Vingador para decidir sobre guerras e triunfos, por parte do Senado, constituiu uma inovação, sendo o início de um movimento que relacionou um assunto de deliberação a um local em particular. Anteriormente as decisões sobre guerras eram feitas em diferentes lugares, principalmente na Cúria ou em algum templo, como, por exemplo, o templo de Júpiter Capitolino, de modo que “Augusto, ao prescrever a realização das sessões relacionadas à guerra no templo de Mars Vltor realmente não inova; ele apenas realiza uma transferência de função em detrimento do Capitólio” (Bonnefond, 1987, p. 254).

Já no que diz respeito às concessões de triunfos, a decisão do Princeps figurou como uma grande inovação, haja vista que, no período republicano, quando um general vitorioso intentava realizar um triunfo, ele deveria convocar o Senado para fora do pomerium, no Campo de Marte, já que não poderia adentrar no território sagrado investido do imperium que recebera antes de deixar Roma. Essa inovação constitui uma transferência simbólica e funcional entre o Campo de Marte, extra pomerium, e o seu templo intra pomerium, o que é bastante significativo.

Outra função do templo que se liga à noção de imperium e sua relação com o pomerium é a de que ele seria o ponto de partida para aqueles que saíam de Roma em expedições militares e para aqueles que exerceriam comando fora de Roma, de modo que partiriam deste templo já investidos de poder, o que demonstra mais uma vez a mudança nas restrições religiosas, de modo que o pomerium, como fronteira religiosa, deixou de excluir o aspecto militar.

Além disso, o templo de Marte Vingador passou a ser o local onde os triunfadores deveriam depositar e dedicar a Marte aquilo que Suetônio (A Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXIX) denomina de insignia triumphorum, e que deve se tratar da coroa e do cetro, citados por Dion Cássio (História Romana, LV.10.3), os quais tinham sido usados pelo triunfador durante a cerimônia, bem como deveriam colocar no templo os estandartes recuperados dos inimigos. Tais funções, que antes eram realizadas nos templos de Júpiter Capitolino e no templo de Júpiter Ferétrio, são transferidas ao templo de Mars Vltor.

Além de todas essas funções referentes a assuntos de guerra e paz, em Suetônio temos uma segunda passagem na qual ele nos deixa entrever outra função relacionada a esta temática, quando ele afirma que Augusto “obrigou os príncipes de algumas nações bárbaras a jurarem no templo de Marte Vingador que lhe permaneceriam leais e dentro dos limites da paz que rogavam” (A Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXI).

Mas o templo não serviu apenas para questões militares, tendo desempenhado também funções cívicas. Ele foi utilizado para a realização do ritual de passagem no qual o menino se tornava homem, trocando a bulla e a toga praetexta pela toga virillis. Foi usado também para a realização de um ritual, realizado pelos Censores, que tinha relação com o censo e marcava o fim do lustrum. De acordo com Bonnefond:

Cada cidadão mantém com Marte Vltor um relacionamento duplo: individual, quando ele troca a toga praetexta, coletivo quando o censo atribui a ele seu lugar na hierarquia cívica. É sobre esse aspecto que as demais disposições da lex templi insistem: elas visam estabelecer, por meio de ritos ou atos materiais, uma relação entre o templo e uma parte do corpo cívico: as ordens superiores (Bonnefond, 1987, p. 267).

Desta forma, as outras duas funções do templo buscaram envolver os Equestres e os Senadores. Os Equestres, por meio da realização de um festival próximo aos degraus do templo; e os Senadores por poderem tomar parte no suprimento dos cavalos que corriam no Circo e por poderem assumir o comando geral do templo, como havia sido determinado no caso dos templos de Apolo e de Júpiter (Dion Cássio, História Romana, LV.10.5).

V. Análise iconográfica

A importância que o templo de Marte Vingador desempenhou no período augustano, bem como o papel relevante deste deus na ideologia da época não são perceptíveis apenas pela Lex Templi expressa nas fontes escritas, mas também por meio da iconografia do próprio complexo arquitetônico, a qual expressa o caráter militar deste deus e sua ligação ancestral com a gens do imperador Augusto.

Para realizar a análise de tal iconografia, as contribuições dos estudos arqueológicos são fundamentais. No que se refere ao templo, o frontão era o lugar de destaque para abrigar as representações tridimensionais dos deuses. Nada restou da elevação do frontão do templo, mas temos uma ideia precisa acerca da decoração que ele continha, graças a um relevo de mármore de um monumento erigido na época de Cláudio, a Ara Pietatis Augustae14 (fig. 7), que se encontra na Villa Medici, em Roma.

Relevo da Ara pietatis Augustae. Villa Medici
Figura 7
Relevo da Ara pietatis Augustae. Villa Medici
Mota, 2015, p. 202.

O relevo retrata um sacrifício em primeiro plano, com o templo identificado como sendo o de Marte Vingador ao fundo. Por meio deste relevo, sabe-se que no centro do frontão estava a figura de Marte, com elmo e manto, segurando uma lança na mão direita e uma espada embainhada na esquerda, e com o pé esquerdo apoiado no globo, simbolizando o mundo conquistado. À sua direita se encontrava Vênus portando um cetro e com um cupido sobre o ombro. À esquerda de Marte estava a deusa Fortuna, segurando uma cornucópia e um leme. Ao lado da Fortuna, por sua vez, a figura da deusa Roma sentada sobre uma pilha de armas, enquanto que ao lado de Vênus estava Rômulo vestido de pastor, sentado sobre uma pedra, com a cabeça apoiada sobre a mão esquerda, segurando com a direita o bastão, ou lituus, de um áugure. As figuras reclinadas localizadas nas extremidades do frontispício eram duas figuras alegóricas: ao lado de Rômulo estava a representação do Palatino, sobre o qual ele fundou Roma; e ao lado de Roma estava a representação do rio Tibre segurando um jarro, em alusão às suas águas.

Além disso, no relevo é possível identificar os acrotérios angulares: duas estátuas de Vitórias aladas sobre uma base quadrada. Segundo Meneghini (2009, p. 65), um fragmento encontrado durante as escavações de 1932 corrobora a presença de tais imagens de Níke. Trata-se de um pé de bronze dourado de grandes dimensões (fig. 8), que parece ter feito parte de uma figura feminina alada em ato de planar, associada a uma das estátuas da Vitória (fig. 9).

Pé direito em bronze. Inv. FA 1119. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Figura 8
Pé direito em bronze. Inv. FA 1119. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Foto tirada pelo autor em 14/01/2019.

Desenho reconstrutivo de Vitória alada com inserção do pé encontrado
Figura 9
Desenho reconstrutivo de Vitória alada com inserção do pé encontrado
Ungaro, 2013, p. 136.

É interessante observar quanto estas figuras do frontão do templo estavam intrinsecamente relacionadas com as imagens às quais Augusto se associou e com as mensagens transmitidas ao longo de seu governo. O deus Marte Vingador, no centro do frontão, era o mesmo a quem o templo fora prometido em 42 a.C.: representava a vingança contra os assassinos de César, bem como a vingança contra os partos que assassinaram Crasso e tomaram os estandartes romanos, mas representava também o deus da guerra, por meio do qual o mundo havia sido conquistado e a partir do qual a paz havia se instaurado. Além disso, Marte era o ancestral divino do povo romano, já que era o pai de Rômulo e Remo.

A estátua colossal de Marte, ao centro da representação, retratava um deus agressivo, seminu e armado, com uma clara referência a Augusto, na sua veste de conquistador e fortalecedor do Império, segundo um esquema iconográfico que encontrou a mais ampla difusão depois de sua morte e sucessiva divinização (Meneghini, 2009, p. 65).

Junto a Marte estava Vênus, deusa ligada à estirpe romana e à origem troiana de Roma, sendo mãe de Eneias. Ela era também a ancestral divina da gens Iulia, à qual César dedicou o templo em seu fórum. A deusa Fortuna, com sua cornucópia, representava a abundância da qual, segundo a imagem criada na época, Roma novamente gozava a partir do governo do Princeps. A deusa Roma, sentada sobre uma pilha de armas, simbolizava tanto o aspecto militar e guerreiro do povo romano, como a paz conseguida e garantida pelas armas romanas.15 Rômulo e o Palatino, por sua vez, haviam sido amplamente explorados no período augustano, possuindo enorme importância para o Princeps e as mensagens propagadas na época, tanto que se difundiu a associação entre Rômulo e Augusto, visto como o novo fundador de Roma. Não é por acaso que o Princeps se estabeleceu no Palatino e modificou substancialmente a topografia da colina com a construção do complexo de Apolo Palatino, no início de seu governo, em conexão com sua própria residência.

O interior da cela16 (fig. 2E e 10), como vimos, era composto por um pavimento rico em mármores coloridos e possuía em suas paredes laterais uma decoração constituída de uma dupla colunata sobre um pódio de cerca de 2,5 metros de altura. Nas paredes próximas dos dois níveis das colunatas havia nichos entre as colunas, que provavelmente continham estátuas ou mesmo troféus de guerra. As colunas, sobre bases ricamente decoradas (fig. 11), eram compostas por capitéis que representam uma transformação única da ordem Coríntia, nos quais as volutas dos cantos foram substituídas por pégasos (fig. 12).17

Temos neste (capitel) um exemplo verdadeiramente eficaz da excelente qualidade da decoração arquitetônica no Fórum de Augusto. Com grande cuidado e habilidade foram reproduzidos detalhes como as nervuras das folhas e as penas das asas do pégasos. Enquanto as folhas de acanto, não obstante o avançado processo de estilização, carregam impressões inegáveis do estilo tardo-clássico, as crinas dos pégasos foram entalhadas segundo os módulos tardo-arcaico (Zanker, 1984, p. 12).

sboço do interior da cela com estátuas de culto.
Figura 10
sboço do interior da cela com estátuas de culto.
Ungaro, 2013, p. 139.

Base de coluna da primeira ordem da decoração interior da cela. Reconstrução de gesso com moldes de fragmentos originais. Inv. 2516. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Figura 11
Base de coluna da primeira ordem da decoração interior da cela. Reconstrução de gesso com moldes de fragmentos originais. Inv. 2516. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Foto tirada pelo autor em 14/01/2019.

Capitel de coluna com pégasos da primeira ordem da decoração interior da cela. Mármore de Luna. Inv. FA 2514. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Figura 12
Capitel de coluna com pégasos da primeira ordem da decoração interior da cela. Mármore de Luna. Inv. FA 2514. Roma, Museu dos Fóruns Imperiais nos Mercados de Trajano.
Foto tirada pelo autor em 14/01/2019.

Do lado oposto às grandes portas de acesso à cela, estava a abside com quase 9 metros de comprimento. Ela ficava no mesmo nível dos pódios laterais, contendo cinco degraus revestidos em pavonazzetto e alabastro. Este era o local destinado às estátuas de culto, onde, de acordo com Ovídio (Tristes, II.295-296), estavam Marte e Vênus. A presença destas duas divindades, não apenas no frontão como também na cela do templo de Marte Vingador, tem um grande poder simbólico e ideológico.

A ligação entre Vênus e Marte identifica o poder do amor em temperar a brutalidade da guerra e da vingança. Mas tem mais, Vênus é a progenitora da gens Iulia, portanto, de Júlio César e de Augusto, enquanto que Marte é o pai de Rômulo, portanto, o precursor dos romanos. A presença do casal divino no templo é uma referência precisa à estreita ligação que une os romanos e o seu Princeps (La Rocca, 1995, p. 80).

Corroborando esta passagem de Ovídio (Tristes, II.295-296) que atesta a presença das duas divindades na abside, temos também um relevo em mármore de Luna (Argel, Museu Nacional de Antiguidades. Inv. FA 475-09) (fig. 13), proveniente de Cartago. O relevo é composto de três figuras principais. No centro do relevo vemos a representação de Marte barbado, com elmo e couraça, segurando com a mão esquerda o escudo que está apoiado no chão e contém a representação da coronaciuica,18 enquanto o braço direito está levantado; do seu lado direito está uma representação de Vênus, segundo um tipo grego da segunda metade do século V a.C., com o corpo inclinado e as pernas cruzadas, apoiada sobre um suporte à sua esquerda, juntamente com um cupido que lhe oferece uma pequena espada; à esquerda de Marte está uma figura masculina jovem,19 seminua, com um manto (La Rocca, 1995, p. 79).

Percebe-se, pela análise do relevo de Argel, que Marte e Vênus possuem bases distintas, de modo que se pode dizer que, apesar de formarem um grupo escultórico de estátuas cultuais, não compartilhavam uma única base.

Julga-se, sem dúvida, que as duas estátuas, de Marte e Vênus, colocadas próximas uma da outra, formam um conjunto, cuja harmonia resulta especialmente da direção das duas cabeças, da inclinação do corpo da deusa e da presença do Cupido com a espada, uma espécie de hífen entre as duas figuras principais (Gsell, 1899, p. 40-1).

Relevo de Argel. Mármore de Luna. Inv. FA 475-09. Argel, Museu Nacional de Antiguidades
Figura 13
Relevo de Argel. Mármore de Luna. Inv. FA 475-09. Argel, Museu Nacional de Antiguidades
Meneghini, 2009, p. 67.

Ademais, como afirma Zanker (2018-2019, p. 56), o fato de Vênus ser representada em sua própria base e em nível superior à figura de Marte aponta para a reutilização de um original grego.

Para além da representação no relevo de Argel, a estátua cultual de Marte também é associada a uma estátua colossal do período dos Flávios. Considerada uma cópia da estátua de culto, ela é esculpida em mármore de Paros, mede 3,60 metros de altura e se encontra atualmente nos Museus Capitolinos (Inv. S 58) (fig. 14).20 A estátua colossal traz a representação de Marte com postura, vestimenta e atributos semelhantes à do relevo – uma das diferenças é que há dois pégasos em seu elmo, análogos aos dos capitéis do interior da cela. Outra diferença seria a couraça ricamente decorada, na qual vemos a representação de dois grifos, símbolo da deusa da vingança, Nêmesis; sobre eles vemos a cabeça de Medusa, que aludia ao terror que as armas do deus causavam; sobre as alças nos ombros há cornucópias que simbolizavam “a riqueza e a abundância derivantes da paz resultante da guerra vitoriosa” (Meneghini, 2009, p. 68)

Estátua de Marte Vingador. Mármore de Paros. Inv. S 58. Roma, Museus Capitolinos
Figura 14
Estátua de Marte Vingador. Mármore de Paros. Inv. S 58. Roma, Museus Capitolinos
Mota, 2015, p. 204.

Também no interior do templo foram colocados os estandartes recuperados dos partos.21 Segundo o próprio Augusto: “Guardei essas insígnias nos penetrais do Templo de Marte Vingador” (Feitos do Divino Augusto, XXIX). Zanker (1984, p. 21-2) defende que, devido à enorme importância simbólica destas insígnias, elas devem ter ocupado um lugar de destaque, próximo às estátuas cultuais, na abside. Independentemente do local, a presença dos estandartes no templo por si só já representou algo notável, pois exaltava essa conquista diplomática que foi propagada como uma verdadeira vitória militar. “Marte não é apenas vingador de um assassinato político ocorrido em um passado que todos queriam esquecer; o deus é o vingador da cidade contra quantos tinham atacado a estabilidade de seu poder no mundo” (La Rocca, 1995, p. 78). Assim, a construção desse templo ressaltava esta dupla vingança.

VI. Marte dentro do pomerium

Como se sabe, o pomerium demarcava os limites sagrados da cidade, circunscrevendo não apenas suas fronteiras religiosas, mas também suas fronteiras jurídicas. As religiosas se referem à delimitação do templum, o espaço ritualmente inaugurado; as jurídicas à separação do domínio dos magistrados cum imperio, poder de comando militar que não poderia ser usado dentro do pomerium.

É significativo que, ao longo da história de Roma, esta tenha sido a primeira vez que um templo foi dedicado a Marte no interior do pomerium. Tal inovação ia de encontro ao costume e às recomendações legadas pelos etruscos, pois, de acordo com Vitrúvio:

[...] os arúspices etruscos, nos escritos das suas ciências, solenemente afirmaram que os templos de Vênus, Vulcano e Marte deveriam ser edificados fora da muralha [...]. Quanto à Marte, se a sua divindade fosse venerada fora dos muros, não haveria dissensão armada entre os cidadãos, mas, defendendo a cidade dos inimigos, iria salvá-la do perigo de guerra (Vitrúvio, Tratado de Arquitetura, I.7.1).

A partir desta análise, podemos inferir que, com Marte residindo em sua importante morada dentro do pomerium, o Princeps declarava que Roma não precisava mais temer as guerras civis, às quais ele havia posto fim, como também não precisava se preocupar com ataques de outros povos, já que a mensagem criada e propagada no período era a de que Roma fosse a capital do mundo conhecido, de modo que Augusto havia submetido o mundo ao imperium romano, como ficou expresso em diversos monumentos pela cidade.22

[...] Marte, transportado para dentro do pomerium, deixa de se limitar à esfera da proteção dos cidadãos pelas armas para se tornar, como Júpiter, uma espécie de divindade políade (especialmente se vista dentro do perfeito programa de imagens que ilustram o mito da origem da gens Iulia e do nascimento de Roma). Um deus, portanto, que expande sua vocação, cumprindo também tarefas inerentes à paz: afinal, a paz é a grande protagonista do fórum [...] (Maggi, 2002, p. 915).

De acordo com Beard, North e Price (2004, p. 180), o poder do imperador alterou a distinção conceitual entre a esfera “civil” e a “militar”, pois, ao contrário dos magistrados republicanos, o imperador exerceu autoridade em ambas as esferas simultaneamente,23 e a “combinação de poder civil e militar nas mãos do imperador significou que o pomerium, como fronteira religiosa, deixou de excluir o aspecto militar. Assim, em 2 a.C. o deus Marte recebeu pela primeira vez um templo dentro do pomerium”.

Com relação a este templo, Sumi afirma que:

Ao estabelecer o Templo de Mars Vltor como o repositório dos estandartes recuperados dos partos e fazendo-o central para a topografia das cerimônias triunfais, Augusto efetivamente mudou o significado desta estrutura de monumento da guerra civil para símbolo do mundo conquistado (Sumi, 2005, p. 241).

O templo de Marte Vingador era, portanto, o símbolo do mundo conquistado, uma expressão material da força e supremacia militar de Roma e de seu governante. Ao se constituir no último grande empreendimento de Augusto, este templo, com sua arquitetura monumental, coroa os anos finais de seu governo. E, mesmo sendo Marte um deus relacionado aos aspectos bélicos e seu templo tendo exercido tantas funções militares, este deus, com sua morada dentro do pomerium, teve o papel de propagar a mensagem de que Augusto havia restabelecido em Roma tempos de paz e prosperidade. Deste modo, Marte Vingador exaltou a pacificação conquistada por meio das vitórias militares e vemos o deus da guerra atuar como símbolo da paz.

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Notas

1 Rômulo, descendente da linhagem real de Alba Longa, foi o lendário fundador de Roma no ano de 753 a.C. (Tito Lívio, História de Roma, I.1-7). Convém lembrar, como pontua T. P. Wiseman (1995, p. 160-8; 2013, p. 243), que além desta versão existiam dezenas de outras lendas de fundação em Roma. Para citar apenas dois exemplos, Dionísio de Halicarnasso (Das Antiguidades Romanas, I.72-73) conhecia quatorze lendas diferentes da fundação e Plutarco (Vidas Paralelas, Rômulo, I-II) menciona treze.
2 Dentre os autores antigos que mencionam a filiação divina de Rômulo e Remo, podemos citar Tito Lívio (História de Roma, I.4), Dionísio de Halicarnasso (Das Antiguidades Romanas, I.77) e Plutarco (Moralia, De fortuna Romanorum, VIII).
3 Ovídio (43 a.C.-17 d.C.) foi um dos grandes poetas augustanos e, como Virgílio e Horácio, tinha origem itálica. Sua perspicácia urbana aparece em seus poemas amorosos (Amores), em suas paródias de poemas didáticos (Arte de Amar; Remédios do Amor) e em Metamorfoses. Ele teria ofendido Augusto e foi forçado a passar os últimos nove anos em exílio (Mellor, 2006, p. 53).
4 Além de Ovídio, Suetônio (A Vida dos Doze Césares, Vida de Augusto, XXIX) também relaciona a construção do templo de Marte Ultor com a promessa feita durante a batalha de Filipos, em 42 a.C.
5 Suetônio (ca. 70-130 d.C.) nasceu numa distinta família do norte da África. Foi membro do círculo intelectual de Trajano. Sua obra A Vida dos Doze Césares é talvez a fonte histórica mais vívida que sobreviveu do mundo antigo. Sua obra contém inestimáveis fontes originais, como as cartas particulares de Augusto e Lívia, que ele teria encontrado nos arquivos imperiais (Mellor, 2006, p. 54-5).
6 Os fóruns imperiais se constituem de cinco complexos arquitetônicos contíguos construídos próximos ao Fórum Romano. O fórum de Júlio César é considerado o primeiro dos fóruns imperiais. Depois dele foi construído o de Augusto. O grande Templo da Paz, considerado o terceiro na sequência de fóruns imperiais, foi iniciado por Vespasiano. O quarto, construído por Domiciano, mas dedicado a Nerva no começo de 97, ocupava o espaço entre o Forum Augustum e Templum Pacis. O de Trajano foi o último e maior dos fóruns imperiais (Richardson, 1992, p. 165-9, 175-8, 286-7).
7 Como esclarece Luciane M. de Omena e Pedro P. Funari (2016, p. 75-6), na Itália sob o domínio fascista, as ruínas das construções de Augusto se tornaram cenário de promoção política, de tal forma que a seleção dos monumentos históricos, em um movimento de demolições urbanas, pretendia isolá-los, colocando-os em destaque e tornando-os símbolos identitários das políticas de urbanização do regime fascista.
8 Tal avenida foi inaugurada em 1932 e era chamada de Via dei Monti. Posteriormente foi renomeada Via dell’Impero e atualmente se chama Via dei Fori Imperiali.
9 De acordo com Miguel Cisneros Cunchillos (2002, p. 93-102), o Fórum de Augusto serviu de inspiração para alguns fóruns das colônias e municípios do Ocidente, nos quais há uma alusão, não uma reprodução direta, mediante um sistema de referências plásticas, epigráficas ou arquitetônicas consoante às novas convenções da ideologia dominante.
10 Vitrúvio é autor do Tratado de Arquitetura, a única obra sobre arquitetura que nos chegou da Antiguidade praticamente completa, advindo daí sua grande importância. Sua obra, que contém dez livros, foi dedicada a Augusto, tendo sido publicada na década de 20 a.C. Muito pouco se sabe sobre ele, visto que não existe qualquer nota biográfica de Vitrúvio contemporânea ou posterior à escrita da obra, bem como inexiste menção a Vitrúvio nos autores da época de Augusto, de modo que o pouco que sabemos ou inferimos sobre ele se dá a partir de raras referências autobiográficas no interior da obra. A partir destas informações esparsas, sabe-se que Vitrúvio esteve ligado a César e que, após a morte deste, manteve por Augusto a mesma admiração que tinha por César.
11 O uso do mármore na arquitetura urbana estava relacionado à noção de maiestas, termo que, relacionado à arquitetura, significa imponência. A manifestação exterior dessa maiestas, nos edifícios públicos, era a magnificentia, que pode ser traduzida por suntuosidade, esplendor. Além disso, os edifícios públicos possuíam uma autoridade e prestígio (auctoritas) inerentes a eles, de modo que o uso do mármore ressaltava a egrégia notoriedade de tais edifícios, conferia dignidade e sublinhava a soberania do império (maiestas imperii).
12 De acordo com André Magdelain (1995, p. 108-9), durante o Principado a Lex Templi era lida no momento da dedicação do templo, sem se confundir com ela.
13 Dion Cássio (ca. 164-230 d.C.) foi um grego rico da cidade de Niceia, na Ásia Menor. Ele se tornou Questor em Roma e membro do Senado. Progrediu na vida política sob os Severos e por duas vezes se tornou Cônsul. Ele escreveu História Romana em oitenta livros, dos quais alguns nos chegaram completos, outros em partes. Seu relato sobre o período de Augusto é o mais extenso que sobreviveu. Sua posição no governo dos Severos o fez simpático ao poder imperial, embora às vezes ele seja crítico de Augusto (Mellor, 2006, p. 51-2).
14 Atualmente há consenso entre os pesquisadores quanto a identificar, neste relevo, o templo que aparece ao fundo de uma cena de sacrifício, na qual um touro é imolado na presença dos flâmines, com o templo de Marte Vingador (Zanker, 1984, p. 14; Richardson, 1992, p. 161-2; La Rocca, 1995, p. 75; Meneghini, 2009, p. 63).
15 Representação semelhante podia ser vista na Ara Pacis, pois de acordo com a reconstituição mais aceita, no lado leste da Ara Pacis, no painel à esquerda de quem entra, estaria a representação da deusa Roma sentada sobre a pilha de armas; no painel do lado direito estaria, segundo Zanker (2005, p. 175), a representação da Pax Augusta, de modo que a mensagem de uma se complementa com a da outra, assim, “o espectador deveria ler as duas imagens juntas e entender a mensagem de que as bênçãos da paz haviam sido conquistadas e garantidas pela uirtus recém-fortificada das armas romanas”.
16 Muito do que sabemos sobre o templo vem de escritos e desenhos produzidos no século XVI por Baldassarre Peruzzi (Ungaro, 2013, p. 144).
17 Stamper (2005, p. 136); Meneghini (2009, p. 67); Ungaro (2013, p. 133).
18 A representação da corona ciuica faz alusão direta àquela dedicada a Augusto em 27 a.C., como salvador de todos os cidadãos. Segundo Stéphane Gsell (1899, p. 38), com esta representação no escudo, a ideia de vingança é atenuada, de modo que “Marte aparece não apenas como ultor parentis patriae, mas também como seruator ciuium.”
19 Uma das hipóteses aceitas é que esta figura representaria Júlio César divinizado (Meneghini, 2009, p. 68-9; Zanker, 1984, p. 19-20; Gsell, 1899, p. 40-2). Outra hipótese sugere que esta figura representaria o genius de Nero, ao qual o Senado dedicou uma estátua em 54 d.C., colocada no templo de Marte Vingador (Meneghini, 2009, p. 69; La Rocca, 1995, p. 79-80).
20 “A estátua que atualmente pode ser vista no átrio do Palácio Novo sofreu várias intervenções e restaurações ao longo do tempo: a cimeira do elmo, com a esfinge e os dois pégasos, é quase toda reconstruída, com exceção de algumas partes da cauda e das patas dos animais que se preservaram. Por sorte, boa parte dos detalhes da couraça são originais como os grifos em alto relevo, a composição decorativa das lapelas – pteryges – e parte da cabeça de Medusa, gorgoneion” (Mota, 2015, p. 203-4).
21 La Rocca (1995, p. 78) afirma que além dos estandartes recuperados dos partos, o templo também abrigava os estandartes resgatados na Hispânia, na Gália e entre os dálmatas.
22 Além disso, em algumas passagens de suas Res Gestae, Augusto também propagou esta noção de que submeteu o mundo e os inimigos, livrando o povo romano do temor, por exemplo, quando afirma: “Abaixo uma cópia dos feitos do Divino Augusto, pelos quais submeteu o mundo ao império do Povo romano [...]” (Feitos do Divino Augusto, Pr.); ou “livrei do medo e dos perigos toda a comunidade” (Feitos do Divino Augusto, V); ou ainda “depois de extinguir as guerras civis” (Feitos do Divino Augusto, XXXIV).
23 Beard, North e Price (2004, p. 180) lembram que Augusto possuía o “imperium proconsular” e o “imperium consular”.
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