Um estudo sociocognitivo dos antropônimos “Enheduana” e “Akhenaton”

a autonomeação como comunicação político-performativa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24277/classica.v36.2023.1023

Palavras-chave:

Antroponomástica Sociocognitiva; Autonomeação; Sociocognição; Antropônimo; Enheduana; Akhenaton.

Resumo

Esta visitação ao onoma (nome próprio) a partir da Antroponomástica Sociocognitiva articula o valor performativo do fenômeno diacrônico da autonomeação a mecanismos identitários de manutenção do poder comuns ao fazer político da Idade Antiga, especialmente do Império Acadiano (Antiga Mesopotâmia) e da XVIII dinastia egípcia (Império Novo do Egito). A fim de se perceber os antropônimos (nomes próprios de pessoa) oriundos da autonomeação (nomeação secundária que um indivíduo assume para si) enquanto enunciados de força ilocutória que comunicam desejos políticos mediante o pertencimento cosmovisional religioso, esta discussão se pauta na contextualização de duas autonomeações trazidas à pauta histórica pela Arqueologia: “Enheduana” (En, “alta/sumo sacerdotisa”; hedu, “ornamento”; Ana, “do céu/do paraíso”), sumo sacerdotisa do templo sumério do deus da lua “Nana” em Ur cujo nome primário acadiano faz-se desconhecido – e “Akhenaton” (“espírito eficaz de Aton”), monarca egípcio da atual Amarna (outrora Akhetaton), cujo nome público, antes da reforma religiosa de Amarna, era Amenhotep IV (“paz de Amon”). A pesquisa bibliográfica necessária à elaboração desta investigação qualitativa pauta-se pela ótica interdisciplinar e desenha a relação sociológica recursiva entre o fenômeno autonominativo e a comunicação sociocognitiva de pertencimento político-religioso pela semântica metonímica do antropônimo secundário.

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Biografia do Autor

  • Amanda Kristensen de Camargo, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Cascavel (PR), Brasil

    Doutora em Letras, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Cascavel (PR).

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Publicado

2023-07-13

Como Citar

Camargo, A. K. de. (2023). Um estudo sociocognitivo dos antropônimos “Enheduana” e “Akhenaton”: a autonomeação como comunicação político-performativa. Classica - Revista Brasileira De Estudos Clássicos, 36, 1-23. https://doi.org/10.24277/classica.v36.2023.1023