Entre eros e a morte, a paixão desmedida de Antígona e de Maria Matamoros
DOI:
https://doi.org/10.24277/classica.v35i1.979Resumo
Pretende-se estabelecer no artigo um paralelo, sob uma abordagem comparativa, entre as protagonistas da tragédia Antígona, de Sófocles, e da narrativa “Matamoros (da fantasia)”, de Hilda Hilst. Devotada ao irmão Polinices, Antígona transgride as leis da cidade para obedecer tão somente ao imperativo do seu desejo, ventilado por Jacques Lacan (2008) e sugerido na tradução de Trajano Vieira (2009). Imbuída pelo ímpeto de uma heroína trágica, Maria Matamoros segue a sua paixão irredutível pela figura de Meu, abandonando-se a um gesto de autoflagelo. Com base na leitura de Davi Andrade Pimentel (2009), o castigo em si mesma a aproxima, em certa medida, das tragédias gregas. Sob um páthos excessivo e arrebatador, as protagonistas conduzem as suas escolhas até os últimos limites. Tendo em vista o vínculo entre o sacrifício e o amor (Bataille, 2017), ambos os enredos retratam a entrega amorosa como uma legítima experiência de transgressão e de destruição. Em suma, a paixão confunde as fronteiras entre eros e a morte.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Guilherme de Almeida; VIEIRA, Trajano. Três tragédias. Antígone, Prometeu prisioneiro, Ájax. São Paulo: Perspectiva, 1997.
ARISTÓTELES. Poética. Tradução, comentários e índices analítico e onomástico de Eudoro de Sousa. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
BATAILLE, Georges. A parte maldita. Precedida de “A noção de dispêndio”. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
BATAILLE, Georges. O erotismo. Tradução de Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.
BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 1995.
BURKERT, Walter. Greek tragedy and sacrificial ritual. Greek, Roman and Byzantine Studies,
v. 7, n. 2, p. 87-21, 1966.
BURKERT, Walter. Religião grega na época clássica e arcaica. Tradução de M. J. Simões Loureiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
CATULO. O livro de Catulo. Tradução, notas e introdução de João Angelo Oliva Neto. São Paulo: EDUSP, 1996.
EAGLETON, Terry. Sweet violence: the idea of the tragic. Oxford: Blackwell Publishing, 2003.
EURÍPIDES. As bacantes de Eurípides. Tradução de Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2003.
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. Tradução de Órizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
GIRARD, René. A violência e o sagrado. Tradução de Martha Conceição Gambini. Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. Tradução de Victor Jabouille. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Cursos de Estética, volume IV. Tradução de Marco Aurélio Werle e Oliver Tolle. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
HILST, Hilda. Da prosa. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 2 v.
JOHNSON, Patricia J. Woman’s third face: a psycho/social reconsideration of Sophocles’ “Antigone”. Arethusa, v. 30, n. 2, 1997, p. 369-98.
LACAN, Jacques. A essência da tragédia: um comentário da Antígona, de Sófocles. In: LACAN, Jacques. Seminário, livro 7. A ética da psicanálise, 1959-1960. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller; versão brasileira Antônio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 287-338.
LEBRUN, Gérard. O conceito de paixão. In: CARDOSO, Sérgio et al. Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 17-33.
LESKY, Albin. A tragédia grega. Tradução de J. Guinsburg, Geraldo Gerson de Souza e Alberto Guzik. São Paulo: Perspectiva, 2015.
LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Tradução de Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes, 1982.
LORAUX, Nicole. Maneiras trágicas de matar uma mulher. Imaginário da Grécia antiga. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.
LORAUX, Nicole. A tragédia grega e o humano. In: NOVAES, Adauto (org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de Cultura, 1992. p. 17-34.
MELO E SOUZA, Ronaldes de. A atualidade da tragédia grega. In: ROSENFIELD, Kathrin (org.). Filosofia e literatura: o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 115-40.
MORAES, Eliane Robert. A santa, a saia e o sexo. Três notas sobre uma imagem em Hilda Hilst. Cintilações – Revista de Poesia, Ensaio e Crítica, v. 3, p. 105-13, 2019.
PIMENTEL, Davi Andrade. A literatura de Hilda Hilst na perspectiva de Maurice Blanchot. Dissertação (mestrado em Letras) – Universidade Federal do Ceará, Pós-Graduação em Letras, Fortaleza, 2009.
REINHARDT, Karl. Sophocle. Traduit de l’allemand et préfacé par Emmanuel Martineau. Paris: Les éditions de Minuit, 1971.
ROSENFIELD, Kathrin H. Sófocles & Antígona. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
SÓFOCLES. Antígone de Sófocles. Tradução e introdução de Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2009.
SOUSA, Eudoro de. Uma leitura de Antígona. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1978.
VERNANT, Jean-Pierre. Tensões e ambiguidades na tragédia grega. In: VERNANT, Jean-Pierre; VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia antiga I e II. Vários tradutores. São Paulo: Perspectiva, 1999. p. 7-24.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Andréa Leitão
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online após o processo editorial (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal), já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d. Autores autorizam a cessão, após a publicação, de seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais, bases de dados de acesso público e similares.